Conquanto reconheça sua importância colossal para com nossa língua, obrigado mais uma vez sou a vituperá-lo, ou melhor, criticá-lo. Em sua venusta coluna na CBN, o mestre em questão menoscabou com afinco a nossa pouco trabalhada etimologia. Por corolário, e com certo frêmito, o professor Pasquale disse que não há explicações etimológicas para o fato de a palavra chuva ser escrita com U, tal como o chover ter por grafia a letra O. A ele, digo tão-somente que houve um ledo engano.
Sem mais preâmbulos, a todos recomendo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, obra-prima de Antenor Nascentes. Aliás, à época a expressão portuguesa era composta por um acento circunflexo no E; sinal, a ver, cuja explicação de professores do primário está atrelada à estolidez do chapeuzinho do vovô, sendo, a bem da verdade, nada mais do que um círculo flexionado. No livro supracitado, chuva advém do latim pluvia. Chover, do latim plovere. Só pelo olhar é possível entender o porquanto de um vocábulo ser escrito com U. E o outro, com O.
À guisa de Antenor, o I de pluvia sofreu atração. Já o U, virou O. Sem embargo, o U voltou à sua forma original, diga-se, por influência do V. Decerto, nesse ínterim de U para O, a saber, deu-se o resultado chover. Ademais, o ditongo UI sofreu redução por uma questão de pronúncia. Consoante o Pasquale, seria improvável encontrar alguma resposta para a questão, qual seja, estamos em um mundo fantasmagórico. Por fim, uma frase de Schopenhauer muito vem a calhar: "Talento é quando o atirador atira o alvo que ninguém consegue. Genialidade, quando o atirador atinge o alvo que ninguém enxerga". Eis aí a diferença da etimologia para todo resto. É isso.
Daniel Muzitano