quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

O quase solecismo da memória

Ipsis verbis, por hoje estive a ponto de mergulhar na debacle, de maneira que não lembrava do nome da figura de linguagem que, aos olhos de Antônio Geraldo da Cunha, era vista como uma modificação de sentido na associação de certas palavras, pela repetição de tais em ordem inversa. A exemplificar, temos "a ausência de companhia" e "a companhia de ausência".
Dessa feita, minha memória estava falhando e eu parecia seguir à deriva. De supetão, eis que achei, sem divagar, a tão escondida antístrofe, dantes lida como a segunda parte da ode antiga. Portanto, é crível afiançar que o vocábulo nasce do latim antistrophe, que advém do grego antistrophé, enfim, inversão da estrofe. E o fenômeno que relaciona "a ausência de companhia" com "companhia de ausência" foi descoberto.
Depois dessa efeméride, bem juro que me senti, como nunca houve, imerso num alto grau de inteligência, tal como de loucura, combinação mais do que louvável num país que avilta todas as possibilidades reais de aprendizado. Com isso, a companhia de ausência é sempre melhor do que a ausência de companhia. E viva a antístrofe.
Daniel Muzitano