terça-feira, 4 de dezembro de 2018

100 anos de atraso

Conquanto haja um ufanismo burro quanto à literatura deste país, é dever meu, antes de tudo, dizer que o título não é hiperbólico, bem como que o assunto não é de somenos. Assim sendo, estava a ler João Ribeiro, um nome sem igual, e lá pelas tantas diz ele que não temos uma Academia, pois não temos literatos; pensamento, esse, com cerca de um século de vida, dado que o autor morreu em 1934.
Na mesma obra, comenta Agrippino Griego que num país como o Brasil, onde a inteligência é considerada um estrangeirismo nefasto, deve ser um tormento ser João Ribeiro. Sem menor opulência, Peregrino Júnior diz: João Ribeiro é um acidente singular e desconcertante, um dos espetáculos mais interessantes da chata planície literária do Brasil. Propondo um paralelo, notem que em todas as áreas, e vale a generalização, temos um gênio para cada 60 mil imbecis.
As mentes mais brilhantes da área de Letras já denunciavam uma deliquescência de um século, e que resulta na nossa crise intelectual presente no então agora. Apesar do cenário, a altivez ignominiosa nunca esteve tão alta. Perante o histórico e as críticas de cérebros provenientes de um século, não é tímido relatar, como sugeriu o Olavo de Carvalho, que de fato estamos uns 260 anos atrasados. Se há 100 anos a inteligência virou exceção, que grau estaríamos agora? Por fim, somos o emblema do quidam e da preguiça.

Daniel Muzitano

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

A inocuidade cerebral (MINHA CRÍTICA DO DIA)

Embora não tenha o degas aqui a obrigação de explicar o óbvio, confesso que me causou obstupefação ver a Deborah Secco, que é muito à esquerda, ter ido votar com um livro de Nelson Rodrigues em mãos. De exórdio, o livro não é um desodorante para amenizar cabelos no sovaco, e sim um elemento para ler, ser estudado, indagado etc. Demais disso, inicio dizendo que Nelson brigou com seu próprio filho por ele ser de esquerda, bem como tinha por hábito assistir aos jogos de futebol com o memorável Médici.
Detalhes à parte, Nelson em diversas frases tece críticas épicas contra a esquerda, por exemplo: "Eu amo a juventude como tal. O que eu abomino é o jovem idiota, o jovem inepto, que escreve nas paredes "É proibido proibir" e carrega cartazes de Lenin, Mao, Guevara e Fidel, autores de proibições das mais brutais". Ao par, também disse que o feminismo reduz a mulher a um homem mal-acabado. Ah, mas o teatro dele criticava o conservadorismo - dirão os mais idiotas.
Nelson criticava o pseudoconservador, de modo que entendia que a esquerda estava, como hoje notamos, ocupando espaços na igreja. Para tanto, não faltam ademanes que servem de emblema para o que estou falando. Uma frase marca bem isso: "A Igreja está ameaçada pelos padres de passeata, pelas freiras de minissaia e pelos cristãos sem Cristo. Hoje, qualquer coroinha contesta o Papa".
Grosso modo, a ideia de Nelson era ter como referência a família verdadeiramente conservadora, mas o debate no Brasil é raso, os pensamentos são curtos e hoje o livro é mais utilizado, sem prejuízo da realidade, como um desodorante vencido desde a queda do muro. É triste ver a pobreza cultural de certas almas. Entretanto, graças a Deus ainda existo para ser o contraponto.
Daniel Muzitano

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

O que seria o termo cum-quibus?


Não há qualquer zéfiro em minha área, senão pela leitura insistente de bons livros, ainda que o país esteja eivado pelo culto à ignorância. Assim sendo, o rico livro de sinônimos, a saber, do notável Antenor Nascentes, trouxe à tona a expressão latina cum-quibus. Afinal de contas, qual o papel de cum-quibus?
A propósito do fato, a forma cum-quibus designa etimologicamente com que ou com os quais. Consoante o autor, engloba a ideia de meios com que ou com os quais se compram as coisas. Para tanto, os dicionários delegam à palavra a noção de dinheiro. Produzido o esclarecimento, por que motivo o hífen é utilizado no termo aludido?
Do grego hýphen, isto é, um só corpo, o sinal gráfico possui a função de evitar ambiguidades, tal como formar um novo vocábulo mediante dois ou mais outros. Em suma, com e que possuem seus sentidos originais na expressão? Não, haja vista que vieram a significar dinheiro. Portanto, faz-se crucial a hifenização.
Por fim, cito aqui um exemplo que evidencia melhor o intuito de extirpar a ambiguidade. Vejamos: Mesa redonda = literalmente uma mesa redonda x Mesa-redonda = reunião de pessoas especializadas em um assunto, de modo a debatê-lo em igualdade de condições. Claro, ninguém irá ler isso, mas dizia Nietzsche: Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar. Fim.
Daniel Muzitano

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

O aniversário de Nelson Rodrigues


Por conseguinte de um continuum, quisera o tempo que eu findasse a leitura de um livro de Nelson, a saber, no dia em que o dito-cujo completaria mais um inverno. A pátria em chuteiras, obra-prima para os que enaltecem um texto sem igual, faz de todos os leitores meros vassalos de cada vírgula, de cada análise, de cada exasperação do autor.
Nelson foi capaz de ressaltar, por exemplo, que a Inglaterra, depois da copa de 66, nunca mais venceria nada. De modo a não cometer nenhuma sem-razão, o escritor foi o único capaz de trazer elementos do dia a dia, nunca promulgados por qualquer alma, ao futebol, haja vista que tais explicitam a arte, diga-se, em sua melhor perspectiva.
Em síntese, ler Nelson Rodrigues é como possibilitar a ressurreição de Cristo. Nem o piano de Claude Debussy, por assim dizer, consegue formular tanto ato homérico, a fim de ressaltar a expressão latina de um dicant paduani. Por fim, Nelson, penso agora, deve ser uma bíblia àqueles que se propõem a locupletar com a solitária solidão.
De mais a mais, o ponto-chave é que Nelson faz de nossas hodiernas mesas-redondas uma espécie de encontro de simplórios. Envelheci 40 anos em 15 dias e fui capaz, ainda que sem conhecê-lo, de sentir saudade de um tempo que não vivi. Parabéns, Nelson. Uma pena que para cada gênio nasçam 60 mil imbecis. Você é eterno.

Daniel Muzitano

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Um tácito de rapsódia


Saber povoar a solidão dignifica o homem em suas mais triviais paixões. Parecia haver um elã infindável e, mesmo, estimulado. Enfim um sábado tenho para a tessitura à deriva, a fim de compor meu tempo com mais liberdade.
Meu gosto cultural possui predicados de séculos atrás, porquanto há a necessidade em pessoas inteligentes pela opção de cérebros antigos. Assim faço, pois difícil parece a convivência com uma mulher que tenha menos de 33 invernos.
Às vezes, parece não haver outro jeito, senão procurar em outro estado a opulência que falta nesse. A pátria em chuteiras de Nelson Rodrigues e um bate-papo com a Regina foram minhas respirações diante deste frio esboçado por um legítimo verão. Conversas e conversas são inimagináveis, mas Regina fala de livros, tece críticas culturais e possui um nível similar ao meu, sem qualquer objeção.
A ausência de um colóquio no Rio tornou-se o bar não uma opção, mas uma obrigação para reinar o colosso de uma praia. Chegamos a um ponto de ver mais fulgor à distância de 500 mil metros a ficar submetido a uma saia sem qualquer obra. E o pecado parece irremediável.

Daniel Muzitano

quinta-feira, 28 de junho de 2018

A etimologia em Dom Casmurro


Conquanto o estudo seja Brasil afora uma espécie de impropério, de modo que o culto à ignorância mais é atopetado, este escrito visa a ligar termos pouco comuns no dia a dia, por sua vez presentes em Dom Casmurro, obra-prima de Machado de Assis, a fim de desvendar alguns étimos nunca interrogados, pelo menos não à moda que incute Antenor Nascentes e Machado de Assis; figuras, portanto, dignas de registro.

Sem mais delongas, Machado faz menção à palavra sestércio, a saber, antiga moeda romana. A bem da verdade, o vocábulo é oriundo do latim sestertiu, isto é, adjeção de se (redução de semi-) com terço/terceiro (tertius). Em síntese, meio terceiro configuraria dois asses e meio; valor, logo, correspondente à época. Demais disso, o Bruxo do Cosme Velho cita também a expressão predito, por seu turno emanada do latim praedictus, ou seja, dito (dictus) antes (prae). Observações à parte, promulgo que sou contrário àquele absurdo de modificar a obra machadiana, com o intuito de ela ser mais bem acessível aos jovens pútridos e incapazes de uma locupletação vocabular.

Destarte, tísico é outro ponto que aparece vez ou outra no autor, diga-se, cuidadoso e rico em cada pausa. Acerca do termo, trata-se de um indivíduo muito magro, que sofre de tuberculose pulmonar, ao passo que advém do grego phthisiké, qual seja, que causa consunção; palavra, essa, aludida por Antenor. Como próximo, encarquilhar seria tão-somente um verbo designando ficar com carquilha, logo, cheio de rugas. Resumo da ópera, coadunação de en- (movimento para dentro) com carquilha, que provém de karko, torcido; adjetivo, então, direcionado evidentemente à pele.

Seguindo o texto, lépido decorre do latim lepidu, por sua vez englobando a noção de gracioso, embora haja por hoje a ideia de rápido e de adjetivos afins. Por fim, o que o jovem precisa é correr atrás, afinal, não existe ensino, e sim aprendizado. Que aprendam não mais a fazer as vezes de fantoche de professor que acha bacana a banalização da estupidez, a formação de macunaímas, e, não menos grave, a criminosa ordem dos valores intelectuais. Machado é eterno. É isso.

Daniel Muzitano

quinta-feira, 14 de junho de 2018

As peripécias da peripécia


Conquanto não seja tão-somente uma melódia, que, a seu bel-prazer, está atrelada à faculdade de uma espécie de surpresa, a peripécia talvez sê, sobretudo ao olhar de Aristóteles, um elemento difuso e pautado numa reviravolta de fatos; comportamento, esse, crível e presente na poética do filósofo, resultando num rumo contrário àquele dantes imaginado. 

Demais disso, e menoscabando dicionários esquálidos, Antenor Nascentes, mestre dos mestres, sublinhou em sua obra-prima não apenas o pormenor aristotélico, tal como promulgou que houve uma clara extensão de sentido. Desta feita, a palavra faz as vezes outrossim de aventura e de incidente, diga-se, em seus mais diversos sentidos. 

Por fim, a circunspecção do fato tem por nascimento o grego peripéteia, por seu turno significando acidente. Em suma, o sentido original do termo está coadunado para com a ideia do autor. Como só Aristóteles explica Aristóteles, dadas duas proposições, a saber, uma é verdadeira. Outra, falsa. E assim deu-se o terceiro excluído.

Daniel Muzitano

terça-feira, 29 de maio de 2018

Não seria mais fácil?


Conquanto a etimologia não seja o ai-jesus enquanto aprendizado, sobretudo no que diz respeito à classe docente, porfio com a questão, de modo que noutro dia rememorei que em minha puberdade, a bem dos fatos, tivera eu um exacerbado contratempo para gravar e para assimilar, por algum porquê, o conceito da palavra oligopólio.

Demais disso, mais das vezes o vocábulo para comigo era um ponto de dúvida e de confusão, pois nele havia um estorvo maior do que o Maracanã. Nimiedades à parte, presumo que não é lá muito profícuo dizer tão-somente que o oligopólio é a situação econômica cujo pequeno número de empresas controla a oferta de produtos para ter domínio sobre o mercado.

Em síntese, estar mais bem a par é ir ao encontro da origem, porquanto oligo- é prefixo emanado do grego olígos; designando, portanto, pequeno. Já o sufixo -pólio, sabê-lo-íamos que engloba a lógica de venda. Com isso, precisamos de uma vez por todas fazer da etimologia uma obrigatoriedade em nossas vidas, afinal, como dizia Tito Lívio, quanto menor o medo, menor o perigo. Que raciocinemos: não seria mais fácil? Vamos à luta.

Daniel Muzitano

quarta-feira, 16 de maio de 2018

O desânimo de morar no Rio


À diferença doutros tempos, épocas em que um Macunaíma não era exaltado, a dedicação aos estudos, à espreita da lei, resultava em méritos exorbitantes, ao passo que o malandro, seja na figura de um Lula ou de um bandido qualquer, não possuía vez, conquanto desde o romantismo o Brasil dê sinais de sua imensa inocuidade cultural.
Pari passu, a família, o trabalho, o estudo e os bons valores no panorama brasileiro mais parecem utopias, quando muito um lugar-comum. Desta feita, o não estudo, por exemplo, serve de abre-alas para uma desculpa, acarretando vez ou outra num degrau a mais. A nítida inversão de valores, dantes taciturna, vem à tona em seu rosto mais abjeto, chegando ao ponto de a explicação do óbvio ser de difícil compreensão.
Por fim, é desanimador estudar no Brasil, enquanto que um sindicalista que mal sabe ler, a saber, às vezes consegue três vezes o que você ganha, tal como é nojento o descaso com a polícia em prol do bandido, com o trabalho em favor de uma ideologia, e, principalmente, é ominoso e desanimador viver aqui, afinal, poucos são os olhos que enxergam tal raciocínio. Dado o exposto, retorno à Maria Callas. Quem? - perguntarão tantos. Que um raio aparte.

Daniel Muzitano

terça-feira, 8 de maio de 2018

Mais uma necedade


Para com o uso de estrangeirismos palúrdios, diga-se, ao par desnecessários, conversei outro dia acerca de como estamos à míngua enquanto enriquecimento vocabular, ao passo que há demasiado afinco quanto ao uso de expressões estrangeiras, que, a saber, por cá há palavras à altura perfeitamente capazes de substituí-las. Sem embargo, vejo muitos utilizarem timing, budget, friend e market share, por exemplo, em vez de cronometragem, despesa, amigo e fatia do mercado. 

Ademais, sou caudatário de estrangeirismos, desde que não haja um termo consentâneo e compatível em nossa língua; caso, logo, de shopping, de marketing e de pizza. Todavia, a opção do público demonstra que o brasileiro menoscaba a sua própria literatura, e, pelo o que leio, os livros de um modo geral. Por conseguinte, emana aí o repertório raso e ignaro. Para tanto, a opção por outros idiomas, sobretudo pelo inglês, revela outrossim não um interesse por um segundo idioma, mas sim que estamos consumindo o que há de mais estúpido nele, haja vista o nível simples de vocábulos propriamente substituídos.

Destarte, faço alusão ao que há de mais ignóbil na cultura inglesa, a ver, música pop, hip-hop, livros do nível de um "A culpa é das estrelas" ou esses de autoajuda, séries não muito profícuas e outras estultices. Demais disso, sei que sairei como preconceituoso, arrogante etc. Contudo, e no livro de Nietzsche, li que o poder de atração do conhecimento seria muito fraco, se no caminho que a ele conduz não tivéssemos de vencer tantos pudores. Vou voltar a ouvir Chet Baker, pois fica a dica àqueles que falam friend em vez de amigo. É isso.

Daniel Muzitano

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Os pontos de interrogação sobre a Bruxa

Malgrado o fato de haver um meandro para com a questão, sãmente outorgo os pontos relevantes acerca do étimo da palavra bruxa, que, a bem da verdade, é deveras pouco detalhado e muito menoscabado, ao passo que dicionários e etimólogos estão restritos à explicação pobre, a saber, de conferir ao termo que se trata de uma origem controvérsia. Embora haja mais de uma teoria, pari passu presumo ser dever de profissionais da área mostrar todas as possibilidades presentes no fato em questão, diga-se, sem cometer quiproquó algum, isto é, tomar uma coisa por outra.

A seu turno, o estimado Deonísio da Silva, em sua coluna dedicada à etimologia, pouco agregou neste particular; fato, esse, que auspiciou neste que vos fala uma curiosidade irrefragável na busca incessante por tais porquês. Consoante alguns etimólogos brasileiros, bruxa seria resultado do latim bruchu, ou seja, gafanhoto sem asas. Desta feita, talvez a vassoura para voar e a associação com o sentido de feiura, notem, tenham surgido daí. Sem mais delongas, a Academia Espanhola promulga que o vocábulo espanhol brujo, decorrente do latim bruscus, seria decerto a origem. A título de explicação, bruscus seria perereca, qual seja, mais um concorrente latino quanto ao fato de ter vindo à tona o significado de feia para a palavra, uma vez que o bicho é reconhecido por sua falta de venustidade.

Demais disso e por fim, João Ribeiro, sobretudo em sua obra-prima Frases Feitas, revela que a bruxa é oriunda do vasconço buruz, portanto, de cabeça baixa. Na verdade, a cabeça estaria escondida ou parcialmente escondida, a somar, pela minúcia do uso da capa. Dentre as alternativas, o escorreito João Ribeiro merece uma credencial no tema, pois muito fez pela etimologia, pela Língua Portuguesa, e, de certo modo, por todos nós. O aspecto triste é que ninguém Brasil afora, seja professor ou aluno, tem ciência da quase que incomparável importância do ilustre aludido, mas todos conhecem as necedades musicais cá em vigor, por exemplo, o funk. Isso é o Brasil. Triste.

Daniel Muzitano

terça-feira, 13 de março de 2018

Sob a tutela etimológica

Pari passu em que sou caudatário convicto de a etimologia ser a essência da existência enquanto método de ensino, sou outrossim escorreito quanto ao fato de pôr e de vir à tona a comprovação daquilo que acredito. Desta feita, e por meio desse artigo, elucidá-lo-ei o quão mais simples seria não tão-somente para o professor, tal como para o aluno, a ver, caso a etimologia fosse o elemento de explicação nas salas de aula Brasil afora.

Sem mais preâmbulos, peguemos uma aula de figura de linguagem como teste. Grosso modo, a palavra prosopopeia - sem acento - decorre do grego prósopon, isto é, rosto. Para com o sufixo -peia, resulta da ideia de criar ou de fazer. Por conseguinte, trata-se da figura que consiste na atribuição de sentimentos, de psicologia e de comportamento humanos a seres inanimados. Em síntese, criar um rosto para algo sem vida.

Dado o exposto e para tanto, a música de Cartola seria um suntuoso exemplo, sendo mais bem específico, faço alusão à obra-prima "As rosas não falam". Vamos ao trecho: "Queixo-me às rosas/ Mas que bobagem/As rosas não falam/Simplesmente as rosas exalam/O perfume que roubam de ti". O que o melhor sambista de todos os tempos fez? Criou um rosto para algo inanimado, isto é, as rosas.

Houvesse a criança aprendido nesse formato, teria vida a ignóbil e tola decoreba? Em vez de o professor mandar o jovem gravar o que é metonímia, mais plausível seria dizer que o vocábulo é uma adjeção de met(a)- , prefixo que designa mudança. E -ônimo ou -onímia, sufixo que por sua vez engloba como significado nada mais do que nome. Em resumo, mudança de nome. No momento em que digo que li Nelson Rodrigues, quero dizer na verdade que fiz a leitura de seu livro ou de sua crônica. Ou seja, usei o nome Nelson no lugar de um título de um livro ou de uma crônica.

Por fim, onomatopeia é a junção de onoma-, qual seja, nome. E -peia, fazer. Em suma, fazer um nome, a completar, por meio de um som. Reco-reco, tique-taque e pingue-pongue justificam a ideia supracitada. Estamos muito atrasados e é triste o lugar cujo brasileiro ocupa culturalmente falando, a entender, pelo fato de a "intelectualidade" brasileira discutir estultices, menoscabando o que de fato deveria estar à frente na esfera celestial da discussão, portanto, a irreprochável etimologia. É isso.

Daniel Muzitano

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Divagar é com i

Embora pouco estudado e debatido, Antenor Nascentes possui uma obra irreprochável e escorreita, sobretudo no que diz respeito à etimologia. Aliás, o dito-cujo deveria ser nome de escola, rua e tudo o que mais, porém este país gosta de encomiar figuras ominosas como Paulo Freire. Críticas à parte, no riquíssimo dicionário etimológico de Antenor, a saber, encontramos o verbo divagar, proveniente do latim divagare.
De uso um tanto restrito, divagar engloba as noções de fantasiar, errar, percorrer, desconversar, dentre outros sentidos. À guisa de Antenor, o prefixo di- corresponderia à lógica de duas vezes, uma vez que resulta do grego dís. No mais, divagar originalmente seria vagar por diversos lados. Com relação ao vocábulo devagar, parônimo do verbo supracitado que faz as vezes de advérbio ou adjetivo, o prefixo de- exerce o papel de redução.
Dado o exposto, podemos falar que alguém começou a divagar (desconversar) ou que alguém fica a divagar (fantasiar) algo. As opções são diversas, de modo que divagamos (percorremos) um caminho ou divagamos (erramos) uma questão. É como dizia Isaac Newton: "O que sabemos é uma gota. O que ignoramos, um oceano". Àqueles que ofendem antes de ter ciência para com o tema, resta tão-somente este humílimo texto. E é isso.
Daniel Muzitano

domingo, 18 de fevereiro de 2018

O campeonato do esmorecimento derivado da inversão de valores

Entreveros à parte, nada justifica que a final da Taça Guanabara, independentemente do duelo, seja realizada fora do estado do Rio de Janeiro, isto é, em Cariacica, Espírito Santo. Dado o exposto, há outros problemas mais nesta edição demasiado mendicante tanto em sua organização, tal como em suas esferas tática e técnica.
De exórdio, o Maracanã, dantes palco de clássicos homéricos e escorreitos, hoje privilegia eventos que não o futebol, haja vista ter sido utilizado para um show, embora houvera no mesmo dia de sua realização um Flamengo x Botafogo. No mais, outrossim ao regulamento confuso do ano passado, pode o Flamengo, por exemplo, vencer os dois turnos, e, pasmem, não ser o campeão carioca deste ano; algo, a ver, sem sentido algum.
Aliás, o Flamengo ano passado foi o campeão, conquanto Fluminense e Vasco tenham conquistado respectivamente os dois turnos. Por conseguinte, isso faz os clubes menosprezarem cada vez mais o torneio que de há muito vem perdendo o seu valor. Com relação ao jogo de hoje, e pelo o que acabei de dizer, de pouco vale, senão para justificar minha ida ao bar, por sua vez exercitando uma atividade rodriguiana, portanto, imaginar um jogo interessante assistindo a uma partida irrisória.
Por fim, o futebol carioca segue à risca a doentia inversão de valores presente no estado carioca, ou seja, temos um estádio de futebol que não tem por prioridade o futebol, um campeonato carioca que não será no Rio de Janeiro e um campeão que pode não ter vencido turno algum. À semelhança, o bandido hoje é visto como um herói, um sujeito que estuda é rotulado pela sua "arrogância" e um cara muito correto é visto como otário pelos demais. Grosso modo, a falta de valor de nosso estado respinga em tudo, inclusive em nosso futebol. É isso.

Daniel Muzitano

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

O grama ou a grama?

Malgrado o fato de haver um demasiado quiproquó nesta questão, a dúvida não é lá tola, uma vez que o aviltamento pela etimologia vigora em nosso país de há muito. Dito isso, fiquemos à espreita do assunto, a saber, com o auxílio do sempre irreprochável Antenor Nascentes, diga-se, o mestre dos mestres na conjuntura etimológica. Acerca da pauta, antes de tudo é bom ressaltarmos que tanto existe "o grama", bem como "a grama". Sendo assim, que desvendemos o mistério.
Segundo o nosso famigerado dicionário Caldas, a grama seria o mesmo que gramado, isto é, qualquer gramínea de rizomas rastejantes, cultivada para formar gramados, jardins e parques ou como forrageiras. Já o grama, principal unidade de massa do sistema métrico, correspondente a um milésimo do quilograma, ou seja, o correto seria falar, por exemplo, duzentos gramas de presunto.
Sem mais delongas, a grama surgiu do latim gramen; expressão, portanto, confundida com gramínea. Aliás, alguns autores dizem que a grama decorre de gramen, graminis. Embora não haja consenso, indubitavelmente a palavra gramínea é indissociável à palavra grama, claro, no feminino. Para com o grama, deriva do grego grámma, então, escrópulo. Em suma, antigo peso de 24 grãos ou uma terça parte da oitava, equivalente a 1 grama e 125 miligramas. Com o passar dos tempos, o elemento -grama- passou a significar letra e registro; sentidos, logo, presentes em gramática e cronograma.
Por fim, o grama e a grama são homônimos perfeitos, qual seja, palavras com pronúncia e grafia iguais, porém significados diferentes. Como adendo, homônimo emana do grego homónymos. Em suma, soma de homós (igual) e ónymos (nome). Em resumo, tudo é mais fácil com a etimologia. É isso.
Daniel Muzitano

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Meio século de banalização

Conquanto hodiernamente muitos julguem qualquer estultice como arte, porfio em redigir, dantes sem saber em que lugar da história sua banalização teve início, que o plano já dura pelo menos meio século. Sem mais preâmbulos, resolvi escrever acerca do tema da banalização da arte, haja vista o fato de o Santander Cultural ter anunciado, mais uma vez, uma exposição que tratará de diversidade sexual. A rememorar, o último evento nesse sentido resultou em crianças tocando em um cara nu.

Em seu documentário que diz respeito à beleza, o escritor Roger Scruton aclara o porquanto de estarmos vivendo esses tempos nefandos. A título de explicação, crucial parece voltarmos para a Grécia de Platão. À época, a arte era a ligação da beleza com a ideia de Deus e suas religiosidades. Para tanto, há dois pensamentos platônicos que evidenciam o elo supracitado. Vamos a eles: "A beleza é o sinal de uma outra ordem superior". "Contemplando a beleza com os olhos da mente, você será capaz de nutrir a verdadeira virtude e se tornar amigo de Deus".

Dado o exposto, sobretudo com a definição originária da arte, que entendamos como seu conceito ficou à deriva. Destarte, um sujeito chamado Marcel Duchamp, um dos maiores filhos da puta de todos os tempos, inaugurou sua "obra" em uma exposição. A propósito do trabalho, tratava-se de um mictório com uma assinatura. Em 1968, isto é, há 50 anos, Marcel Duchamp diz em entrevista para a BBC: "Pretendo contribuir para o fim da arte, a fim de que as pessoas possam abandonar a religião".

Pari passu, Duchamp possuiu seguidores mundo afora. Por conseguinte, do mictório com uma assinatura chegamos décadas mais a crianças tocando em um homem nu, imagens de pedofilia e zoofilia em museus, e, saibam, até bosta de cavalo como "obra" em uma exposição na Europa. Só para constar, Duchamp era de esquerda. Por fim, a arte banalizada esfacelou a beleza. Se não há beleza e religião, há feiura, promiscuidade e elementos que cá estamos por vivenciar. É isso.

Daniel Muzitano

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Por que chegar tem por origem dobrar?


Sem mais preâmbulos, explicá-lo-ei que há uma regra irreprochável para com o estudo de etimologia, isto é, palavras portuguesas grafadas por Ch são, por bel-prazer, irremediavelmente originárias de termos latinos que contêm um Pl inicial. Desta feita, chegar é proveniente do latim plicare. Sem embargo, sabe-se que plicare compreende a ideia de dobrar. Em resumo, qual seria o porquê de o verbo chegar ter surgido da expressão dobrar?

Conquanto seja eu caudatário da tese de Nelson Rodrigues cujo autor diz que toda unanimidade é burra, há consenso entre os etimólogos acerca da questão. Aliás, unanimidade, diga-se de passagem, é a soma do vocábulo um com o vocábulo alma, ou seja, de uma só alma. Sem mais delongas, a explicação para o verbo chegar está na linguagem náutica, haja vista o fato de que marinheiros tinham o hábito de dobrar as velas quando estavam chegando ao destino, de modo que a embarcação entrasse suavemente no porto.

Curiosidades à parte, internauta, por incrível que pareça, também advém da linguagem náutica. A título de explicação, inter- tem a noção de entre ou no meio de. Já o sufixo -nauta, que ou aquele que navega. Para tanto, internauta é o sujeito que navega no meio das redes. Doravante, creio que haja mais clareza em expressões, como, por exemplo, "navegar na internet". Por fim, a etimologia é de fato um crivo que inculca tudo e mais um pouco. É isso. 

Daniel Muzitano