quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

O grama ou a grama?

Malgrado o fato de haver um demasiado quiproquó nesta questão, a dúvida não é lá tola, uma vez que o aviltamento pela etimologia vigora em nosso país de há muito. Dito isso, fiquemos à espreita do assunto, a saber, com o auxílio do sempre irreprochável Antenor Nascentes, diga-se, o mestre dos mestres na conjuntura etimológica. Acerca da pauta, antes de tudo é bom ressaltarmos que tanto existe "o grama", bem como "a grama". Sendo assim, que desvendemos o mistério.
Segundo o nosso famigerado dicionário Caldas, a grama seria o mesmo que gramado, isto é, qualquer gramínea de rizomas rastejantes, cultivada para formar gramados, jardins e parques ou como forrageiras. Já o grama, principal unidade de massa do sistema métrico, correspondente a um milésimo do quilograma, ou seja, o correto seria falar, por exemplo, duzentos gramas de presunto.
Sem mais delongas, a grama surgiu do latim gramen; expressão, portanto, confundida com gramínea. Aliás, alguns autores dizem que a grama decorre de gramen, graminis. Embora não haja consenso, indubitavelmente a palavra gramínea é indissociável à palavra grama, claro, no feminino. Para com o grama, deriva do grego grámma, então, escrópulo. Em suma, antigo peso de 24 grãos ou uma terça parte da oitava, equivalente a 1 grama e 125 miligramas. Com o passar dos tempos, o elemento -grama- passou a significar letra e registro; sentidos, logo, presentes em gramática e cronograma.
Por fim, o grama e a grama são homônimos perfeitos, qual seja, palavras com pronúncia e grafia iguais, porém significados diferentes. Como adendo, homônimo emana do grego homónymos. Em suma, soma de homós (igual) e ónymos (nome). Em resumo, tudo é mais fácil com a etimologia. É isso.
Daniel Muzitano

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Meio século de banalização

Conquanto hodiernamente muitos julguem qualquer estultice como arte, porfio em redigir, dantes sem saber em que lugar da história sua banalização teve início, que o plano já dura pelo menos meio século. Sem mais preâmbulos, resolvi escrever acerca do tema da banalização da arte, haja vista o fato de o Santander Cultural ter anunciado, mais uma vez, uma exposição que tratará de diversidade sexual. A rememorar, o último evento nesse sentido resultou em crianças tocando em um cara nu.

Em seu documentário que diz respeito à beleza, o escritor Roger Scruton aclara o porquanto de estarmos vivendo esses tempos nefandos. A título de explicação, crucial parece voltarmos para a Grécia de Platão. À época, a arte era a ligação da beleza com a ideia de Deus e suas religiosidades. Para tanto, há dois pensamentos platônicos que evidenciam o elo supracitado. Vamos a eles: "A beleza é o sinal de uma outra ordem superior". "Contemplando a beleza com os olhos da mente, você será capaz de nutrir a verdadeira virtude e se tornar amigo de Deus".

Dado o exposto, sobretudo com a definição originária da arte, que entendamos como seu conceito ficou à deriva. Destarte, um sujeito chamado Marcel Duchamp, um dos maiores filhos da puta de todos os tempos, inaugurou sua "obra" em uma exposição. A propósito do trabalho, tratava-se de um mictório com uma assinatura. Em 1968, isto é, há 50 anos, Marcel Duchamp diz em entrevista para a BBC: "Pretendo contribuir para o fim da arte, a fim de que as pessoas possam abandonar a religião".

Pari passu, Duchamp possuiu seguidores mundo afora. Por conseguinte, do mictório com uma assinatura chegamos décadas mais a crianças tocando em um homem nu, imagens de pedofilia e zoofilia em museus, e, saibam, até bosta de cavalo como "obra" em uma exposição na Europa. Só para constar, Duchamp era de esquerda. Por fim, a arte banalizada esfacelou a beleza. Se não há beleza e religião, há feiura, promiscuidade e elementos que cá estamos por vivenciar. É isso.

Daniel Muzitano

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Por que chegar tem por origem dobrar?


Sem mais preâmbulos, explicá-lo-ei que há uma regra irreprochável para com o estudo de etimologia, isto é, palavras portuguesas grafadas por Ch são, por bel-prazer, irremediavelmente originárias de termos latinos que contêm um Pl inicial. Desta feita, chegar é proveniente do latim plicare. Sem embargo, sabe-se que plicare compreende a ideia de dobrar. Em resumo, qual seria o porquê de o verbo chegar ter surgido da expressão dobrar?

Conquanto seja eu caudatário da tese de Nelson Rodrigues cujo autor diz que toda unanimidade é burra, há consenso entre os etimólogos acerca da questão. Aliás, unanimidade, diga-se de passagem, é a soma do vocábulo um com o vocábulo alma, ou seja, de uma só alma. Sem mais delongas, a explicação para o verbo chegar está na linguagem náutica, haja vista o fato de que marinheiros tinham o hábito de dobrar as velas quando estavam chegando ao destino, de modo que a embarcação entrasse suavemente no porto.

Curiosidades à parte, internauta, por incrível que pareça, também advém da linguagem náutica. A título de explicação, inter- tem a noção de entre ou no meio de. Já o sufixo -nauta, que ou aquele que navega. Para tanto, internauta é o sujeito que navega no meio das redes. Doravante, creio que haja mais clareza em expressões, como, por exemplo, "navegar na internet". Por fim, a etimologia é de fato um crivo que inculca tudo e mais um pouco. É isso. 

Daniel Muzitano