domingo, 19 de julho de 2020

O pascácio conceito de cultura

Malgrado o fato de eu compreender a cultura como um processo quase que onímodo, preservando evidentemente a moral e o bom vezo, nossa Constituição não a vê nesse viés, haja vista que determina como cultura qualquer expressão do modo de vida do brasileiro. Assim, ante esse nacionalismo néscio, tem-se o funk como uma expressão do modo de vida do povo brasileiro, isto é, como cultura, ao passo que um Chopin, não enquadrado nesse título, passou a ser ignorado e tratado como algo de somenos, irrelevante por assim dizer.
Exposto o cenário, Ernesto Nazareth e João Pernambuco, dois gênios de classe sem igual, apesar de brasileiros, não constituem em sua obra um modo de expressão nacional, e, portanto, são igualmente apagados enquanto referência. Por outro lado, o Rappa e o Marcelo D2, por pior que ela seja, configuram uma expressão do povo brasileiro; estando à frente, em nossa Constituição, por exemplo, do Raphael Rabello.
In terminis, nossa lastimável Constituição legifera, mais das vezes, a favor da banalidade artística nacional, em prol de qualquer alma que revele qualquer ponto do Brasil. Eis aí um dos muitos porquês de estarmos imersos na podridão hodierna. É claro que o Noel Rosa e o Cartola, e muitos outros nomes relevantes, estão dentro de nossa lei cultural, porém é igualmente notório que o conceito é pascácio, pois tanto um quanto o outro são muito maiores do que "uma manifestação da expressão nacional". Em suma, até o que é muito bom e preservado nos anais da história, a saber, fica diminuído e ridicularizado. O conceito é torpe. Precisamos da alta cultura.
Daniel Muzitano

sexta-feira, 3 de julho de 2020

O crime impretérito

Empós de respostas não tão alongadas, e não haverá evidentemente consensus omnium em tal questão, ousá-lo-ei questionar se estamos por vivenciar a era do crime de pensamento, citado de modo iniludível e erudito por George Orwell, respectivamente na obra de 1984. Caros, amiúde tenho que pensar se posto ou não um conteúdo, se falo um não de certo tema, o que posso perder ou não com uma simples postagem: tudo hoje é vigiado, passível de insultos e de perdas.
Desse modo, pensar é crime imperioso, provavelmente com punição imprescritível e inafiançável. Ontem, paulatinamente, ao longo do dia, estava decidido: farei um post sobre os personagens de Bolaños. Hoje, imaginando as críticas, provavelmente vão politizar o vídeo, tecer insultos, e, o que é mais lamentável, vão indubitavelmente rejeitar as referências filosóficas aludidas e o que o Bolaños tinha a nos oferecer. Em nome da promoção vitimista, deu-se no país uma ignorância, a fabricação de pessoas politicamente taradas; enxergando, com total esforço, política ou ato racista até em rótulos de shampoo.
Dado o exposto, como posso arriscar uma pauta? Que segurança tenho de que não perderei profissionalmente? Dependendo de suas orientações e valores, que conclusão outra posso chegar, senão a de que pensar é crime impretérito...? E paremos por aí, pois os mais revoltados já estão por reclamar.
Daniel Muzitano

Nota e esclarecimento sobre o vídeo que fiz envolvendo o "combate" ao racismo

Publiquei um vídeo esta semana sobre o que, a pretexto de um suposto combate ao racismo, estão fazendo com a arte e com certos estudos. Dessa forma, procurei ser respeitoso, civilizado, porém, ainda sim, poucos foram os que entenderam, de maneira que a consequência foi o recebimento de uma produção de insultos; todos devidamente deletados.
Embora eu tenha recebido alguns elogios e algumas críticas legais, é de lamentar o nível civilizatório e intelectual da maioria, aquela que precisamente me vituperou como bem é sabido. Tenho consciência de que o tema é delicado, tentei ser circunspecto ao máximo, porém infelizmente a grande maioria não possui o mínimo dos pré-requisitos para um debate sadio. Dentre os erros, vi gente confundindo etimologia com significado, escrevendo etimologia com "t" mudo, talvez, se me permitem a piada, por influência da palavra etnocentrismo, e outros detalhes mais.
Em suma, devido ao analfabetismo funcional de diversos professores e à incapacidade de muitos na averiguação diacrônica da língua, faz-se impossível a abordagem de um tema mais complexo, cuja presença de holofotes é gritante. Dito isso, evitarei perambular por pautas mais amplas, haja vista que voltarei a me limitar à divulgação dos étimos dos vocábulos. Às vezes, por pura bondade e ingenuidade, tenho a esperança de que serei compreendido. Que erro!
Daniel Muzitano