sexta-feira, 3 de julho de 2020

O crime impretérito

Empós de respostas não tão alongadas, e não haverá evidentemente consensus omnium em tal questão, ousá-lo-ei questionar se estamos por vivenciar a era do crime de pensamento, citado de modo iniludível e erudito por George Orwell, respectivamente na obra de 1984. Caros, amiúde tenho que pensar se posto ou não um conteúdo, se falo um não de certo tema, o que posso perder ou não com uma simples postagem: tudo hoje é vigiado, passível de insultos e de perdas.
Desse modo, pensar é crime imperioso, provavelmente com punição imprescritível e inafiançável. Ontem, paulatinamente, ao longo do dia, estava decidido: farei um post sobre os personagens de Bolaños. Hoje, imaginando as críticas, provavelmente vão politizar o vídeo, tecer insultos, e, o que é mais lamentável, vão indubitavelmente rejeitar as referências filosóficas aludidas e o que o Bolaños tinha a nos oferecer. Em nome da promoção vitimista, deu-se no país uma ignorância, a fabricação de pessoas politicamente taradas; enxergando, com total esforço, política ou ato racista até em rótulos de shampoo.
Dado o exposto, como posso arriscar uma pauta? Que segurança tenho de que não perderei profissionalmente? Dependendo de suas orientações e valores, que conclusão outra posso chegar, senão a de que pensar é crime impretérito...? E paremos por aí, pois os mais revoltados já estão por reclamar.
Daniel Muzitano

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