Malgrado o fato de eu compreender a cultura como um processo quase que onímodo, preservando evidentemente a moral e o bom vezo, nossa Constituição não a vê nesse viés, haja vista que determina como cultura qualquer expressão do modo de vida do brasileiro. Assim, ante esse nacionalismo néscio, tem-se o funk como uma expressão do modo de vida do povo brasileiro, isto é, como cultura, ao passo que um Chopin, não enquadrado nesse título, passou a ser ignorado e tratado como algo de somenos, irrelevante por assim dizer.
Exposto o cenário, Ernesto Nazareth e João Pernambuco, dois gênios de classe sem igual, apesar de brasileiros, não constituem em sua obra um modo de expressão nacional, e, portanto, são igualmente apagados enquanto referência. Por outro lado, o Rappa e o Marcelo D2, por pior que ela seja, configuram uma expressão do povo brasileiro; estando à frente, em nossa Constituição, por exemplo, do Raphael Rabello.
In terminis, nossa lastimável Constituição legifera, mais das vezes, a favor da banalidade artística nacional, em prol de qualquer alma que revele qualquer ponto do Brasil. Eis aí um dos muitos porquês de estarmos imersos na podridão hodierna. É claro que o Noel Rosa e o Cartola, e muitos outros nomes relevantes, estão dentro de nossa lei cultural, porém é igualmente notório que o conceito é pascácio, pois tanto um quanto o outro são muito maiores do que "uma manifestação da expressão nacional". Em suma, até o que é muito bom e preservado nos anais da história, a saber, fica diminuído e ridicularizado. O conceito é torpe. Precisamos da alta cultura.
Daniel Muzitano
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