terça-feira, 4 de dezembro de 2018

100 anos de atraso

Conquanto haja um ufanismo burro quanto à literatura deste país, é dever meu, antes de tudo, dizer que o título não é hiperbólico, bem como que o assunto não é de somenos. Assim sendo, estava a ler João Ribeiro, um nome sem igual, e lá pelas tantas diz ele que não temos uma Academia, pois não temos literatos; pensamento, esse, com cerca de um século de vida, dado que o autor morreu em 1934.
Na mesma obra, comenta Agrippino Griego que num país como o Brasil, onde a inteligência é considerada um estrangeirismo nefasto, deve ser um tormento ser João Ribeiro. Sem menor opulência, Peregrino Júnior diz: João Ribeiro é um acidente singular e desconcertante, um dos espetáculos mais interessantes da chata planície literária do Brasil. Propondo um paralelo, notem que em todas as áreas, e vale a generalização, temos um gênio para cada 60 mil imbecis.
As mentes mais brilhantes da área de Letras já denunciavam uma deliquescência de um século, e que resulta na nossa crise intelectual presente no então agora. Apesar do cenário, a altivez ignominiosa nunca esteve tão alta. Perante o histórico e as críticas de cérebros provenientes de um século, não é tímido relatar, como sugeriu o Olavo de Carvalho, que de fato estamos uns 260 anos atrasados. Se há 100 anos a inteligência virou exceção, que grau estaríamos agora? Por fim, somos o emblema do quidam e da preguiça.

Daniel Muzitano