domingo, 15 de setembro de 2019

É tempo de boa mudança

Léo Duarte, zagueiro do Flamengo, disse, ipsis litteris, que em dez dias aprendeu com Jesus o que não aprendeu em anos vários com todos os outros treinadores. Em resposta à pergunta que envolve o atraso de boa parte dos técnicos brasileiros, nada mais trivial do que exordiar esse texto com a frase do zagueiro em questão. E não me venham com a desculpa de que Jesus é comum e que qualquer um estaria em primeiro pelo fato de o Flamengo ter uma equipe escorreita. Jorge Jesus, em mais de 30 anos, foi o único que levou o clube a uma semifinal de libertadores.
Demais disso, o Flamengo, quando o dito-cujo chegou à Gávea, pelo que me recordo, estava aproximadamente dez pontos atrás do líder. Jesus não só fez do ai-jesus o primeiro, tal como aumentou e muito as chances criadas e a média de gols feitos. Destarte, Jesus vem por agora melhorando o que era um senão e tanto, id est, o setor defensivo. Aos poucos, o Flamengo vem sim levando menos gols e auspiciando menos oportunidades aos seus adversários. In verbis, sou adepto da tese de que, com exceção de Diniz e de Tiago Nunes, fabricamos indubitavelmente técnicos atrasados.
No mais, Flamengo e Santos fizeram um jogo diferenciado na tarde de ontem, refletindo por seu turno em muito equilíbrio e poucas chances criadas, claro, mérito de parte a parte, conquanto Sampaoli, que a meu ver ainda é melhor do que Jesus, tenha um time muito aquém tecnicamente, pelo menos se comparado ao Flamengo. O jogo de ontem, pela inteligência tática de ambos, decerto terminaria 0 x 0. Entretanto, o Flamengo, em momentos árduos, tem mais possibilidades de extrair o inusitado. E Jesus fez o milagre de transformar Arão em jogador.
Quanto àqueles que não entendem por que cito Diniz, antes o Fluminense criava muito e não fazia. Hoje, cria pouco e segue sem fazer. A equipe adquiriu, por tão-somente mérito de Diniz, um repertório rico, mas esbarrava nas deficiências técnicas de seus jogadores, além de ele ter perdido diversos por vendas equivocadas do clube e contusões. Deem um time à altura e Diniz vencerá algo grande. Tirem Sampaoli do Santos, insiram um brasileiro comum e o peixe ficará no meio da tabela. Tirem Jesus do Flamengo e o clube parará de crescer. É hora de acabarmos com essa paixão vernácula absolutamente imbecil. Está na hora de o Brasil produzir técnicos, como há na Argentina, que sejam cogitados por grandes clubes europeus. É tempo de boa mudança.
Daniel Muzitano