quarta-feira, 31 de outubro de 2018

A inocuidade cerebral (MINHA CRÍTICA DO DIA)

Embora não tenha o degas aqui a obrigação de explicar o óbvio, confesso que me causou obstupefação ver a Deborah Secco, que é muito à esquerda, ter ido votar com um livro de Nelson Rodrigues em mãos. De exórdio, o livro não é um desodorante para amenizar cabelos no sovaco, e sim um elemento para ler, ser estudado, indagado etc. Demais disso, inicio dizendo que Nelson brigou com seu próprio filho por ele ser de esquerda, bem como tinha por hábito assistir aos jogos de futebol com o memorável Médici.
Detalhes à parte, Nelson em diversas frases tece críticas épicas contra a esquerda, por exemplo: "Eu amo a juventude como tal. O que eu abomino é o jovem idiota, o jovem inepto, que escreve nas paredes "É proibido proibir" e carrega cartazes de Lenin, Mao, Guevara e Fidel, autores de proibições das mais brutais". Ao par, também disse que o feminismo reduz a mulher a um homem mal-acabado. Ah, mas o teatro dele criticava o conservadorismo - dirão os mais idiotas.
Nelson criticava o pseudoconservador, de modo que entendia que a esquerda estava, como hoje notamos, ocupando espaços na igreja. Para tanto, não faltam ademanes que servem de emblema para o que estou falando. Uma frase marca bem isso: "A Igreja está ameaçada pelos padres de passeata, pelas freiras de minissaia e pelos cristãos sem Cristo. Hoje, qualquer coroinha contesta o Papa".
Grosso modo, a ideia de Nelson era ter como referência a família verdadeiramente conservadora, mas o debate no Brasil é raso, os pensamentos são curtos e hoje o livro é mais utilizado, sem prejuízo da realidade, como um desodorante vencido desde a queda do muro. É triste ver a pobreza cultural de certas almas. Entretanto, graças a Deus ainda existo para ser o contraponto.
Daniel Muzitano

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