Às vezes, e digo sem medo algum de cometer um equívoco, custo a acreditar na existência de Nelson Rodrigues. Acordei às 4 horas desta manhã com uma insônia irremediável. Àquela altura, minha vontade de redigir sobre o fato de eu não conseguir dormir não cessava sobremaneira. Ou seja, pensei na insônia como algo sem explicação. Por sua vez, uma personagem que por si só nascera pouco antes do nada. Dado o exposto, tenho a audácia feérica de ouvir as crônicas futebolísticas de Nelson. Acerca de um jogo, Flamengo x Fluminense sendo mais específico, relembro que o autor disse certa vez que o clássico aludido começou 40 minutos antes do nada. Eis aí minha verdade. Minha insônia é uma espécie de Fla-Flu. Por ele, está descrita aí como tal.
De igual espanto, me veio o pensar inexpugnável - e eu já comentei isto - de não acreditar na juventude na qual faço parte, uma vez que nela há a justificativa de defender atos canalhas, desde que cometidos pela esquerda. A falta de valor por parte desse segmento me fez ir ao Google e escrever, com o sangue em pleno ardor, três simplíssimos vocábulos: Nelson, Rodrigues e canalha. Feito o exercício, eis que surge isto: "A ideologia que absolve e justifica os canalhas é apenas o ópio dos intelectuais". Não entendo como pode existir um sujeito que definiu a minha insônia, bem como uma juventude que ele sequer conheceu. Aliás, Nelson definiu como poucos a relação do jovem inepto com a classe artística fétida e somítica. Se o Fla-Flu nasceu 40 minutos antes do nada. Nelson Rodrigues, 30 minutos antes da terra.
Daniel Muzitano