quarta-feira, 26 de março de 2014

O oceano


Breve gente seja dúvida. "Acreditei que se amasse de novo, esqueceria outros, pelo menos três ou quatro rostos que amei...Organizei a memória em alfabetos como quem conta carneiros e amansa. No entanto flanco aberto não esqueço, e amo em ti os outros rostos", Ana Cristina César. 

É provável que o prezado leitor, no que se concerne para com Ana Cristina César, jamais tenha tido contato literário com essa célebre autora. A poetisa citada, talvez tenha sido um dos maiores ícones da poesia brasileira, quiça mundial. E eu, bem como um pós graduando em língua portuguesa, a descobri pelos mares da internet de um agora consumado, de um passado de semanas.

E em mais uma oportunidade, terei de fazer alusão a mim mesmo, devido a uma peculiaridade bastante trivial no que diz respeito ao modo como são tratados alguns personagens literários. "O que importa não é a causa da morte, mas sim, a causa da vida". Seja no Brasil, ou mesmo no mundo, a mídia cisma em valorizar a morte, o trágico. Quem foi Nietzsche? Um louco. E Maiakóvski? Um escritor que se matou. E Artaud? Outro louco. Bukowski? Um alcoólatra. Assim também ocorre com Ana Cristina César, uma suicida; diriam os mesmos sórdidos.

Essa especificidade midiática é de tamanho nocivo, pois fomenta nos seres comuns uma aversão ao diferente, a nuança. O que me acrescenta em ter ciência dos pecados ou da vida pessoal, ou até mesmo de como faleceram alguns autores? Me sentiria lisonjeado se soubesse o porquê de não abordar, discutir, declamar ou desafiar a obra de cada um desses. É por esses e outros atos de pura mesquinhez que estamos aonde estamos, ou seja, com apenas 24% dos brasileiros letrados possuindo alguma eficácia para ler um texto tido como de faculdade simples. Leia mais logo abaixo:

Fonte: Folha de São Paulo - Coluna do Professor Pasquale .

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2014/03/1428095-o-brasil-a-rotatoria-e-os-analfabetismos.shtml  

Como bem ressaltou o competente Pasquale, estamos à margem do oceano, temos muito o que navegar. É preciso começar tudo de novo e mais uma vez, se possível. Bem como, um projeto consistente e individual, afinal, nos dias que emanam e compõem este hoje, o que sabemos ainda é uma gota, e o que ignoramos ainda é um oceano. Isso é Newton, o físico, e não o doido, tampouco o louco. 

Daniel Muzitano  

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