Em 1978, portanto, de há muito, o então nitente Carlos Drummond de Andrade, um dos principais poetas do modernismo, produziu um texto acerca da inflação. Vale rememorar que o citado teve a argúcia de tratar do tema usufruindo à época da maior paixão dos brasileiros, é claro que, indubitavelmente, faço alusão ao futebol. No tempo frisado, Mario Kempes e companhia conquistavam o primeiro mundial da Argentina. Era um momento de languidez, sim, ao menos na esfera celestial de nossa honraria futebolística. Todavia, para o escritor era uma oportunidade auspiciosa a fim de o próprio redigir um poema em prol do povo e da situação árdua economicamente falando. Sigamos:
Título: Foi-se a Copa?
Foi-se a Copa? Não faz mal.
Adeus chutes e sistemas.
A gente pode, afinal,
cuidar de nossos problemas.
Faltou inflação de pontos?
Perdura a inflação de fato.
Deixaremos de ser tontos,
se chutarmos no alvo exato.
O povo, noutro torneio,
havendo tenacidade,
ganhará, rijo, e de cheio,
A Copa da Liberdade.
Pois bem, a marca de um gênio é estar à frente de seu tempo. Nosso túrbido momento seria similar se a derrota de 7 x 1 não fosse o jogo mais vexatório da história, e se o PT, isso sem sombra de dúvida, não fosse a essência de tudo que macula o Brasil. Esse é o momento que a alma de Drummond paira a brilhar sob esse ferido país. Contudo, se a ideia de um homem pode sobrepujar até mesmo sua própria morte, é porque há alguma chance ainda nesta vida. "Deixaremos de ser tontos, se chutarmos no lugar exato", Carlos Drummond de Andrade. É isso.
Daniel Muzitano
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