Como tudo que temos visto, e rebus sic stantibus, hoje estive a refletir como o meu dia, em confronto com as massas, destoa sobremaneira. A propósito, fiz minha corrida habitual, corrigi alguns artigos, gravei um vídeo sobre certos étimos, tive um bate-papo acerca da possibilidade de a etimologia ser um método de alfabetização, malgrado haver para tanto muitos pontos, e, não menos importante, incuti Nelson Rodrigues neste final de tarde.
A bem da lógica, os anos de morte de Nelson superam meus anos de vida, ou seja, como pode, nessa singela antítese, existir tamanho entendimento entre nós dois? As teses, que página a página imerjo, tirante serem de feitios suntuosos, ficarão como segunda instância. Dado o relato, Nelson usou o vocábulo escorchante, e, perdido na foto de uma mulher excepcional, não pude ver qualquer lucidez feérica sobre a palavra. Afinal, o que seria escorchante?
De supetão, bem fui cortando os entornos da expressão, id est, o prefixo es- decorre de ex-, que por seu turno designa "fora". O sufixo -ante, "ação, qualidade ou estado". Restava desvendar corcha, que após consultas descobri que era "casca de árvore". Grosso modo, e etimologicamente, escorchante é a ação de colocar para fora a casca da árvore. Na definição atual, diz o Caldas: "que arranca a corcha ou a pele". Matamos a lógica, certo? Errado!
Por fim, restara ainda um senão, com o uso do mais-que-perfeito, claro. Por que Nelson chamou uma mulher de escorchante? O adjetivo evoluiu para "preço abusivo", e, por conseguinte, para " algo exorbitante". Agora parece que concluímos. Ah, escorchar provém do latim excorticare (descascar), embora outros digam que a origem esteja no espanhol escorchar (tirar a pele). Enfim, dá no mesmo. De mais a mais, posso antever meu próximo encontro com a mulher venusta: "é um prazer escorchante conhecê-la". Nelson, para todos os fins, é genial. E mais, valeu por hoje cada linha. E há quem goste de Chico Buarque, do Pasquale etc. Que Deus te perdoe.
Daniel Muzitano
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