sábado, 23 de abril de 2016

Shakespeare e Cervantes para o Brasil?

As coisas mais mesquinhas enchem de orgulho os indivíduos baixos. Essa frase foi dita por ninguém menos que o feérico Shakespeare. Juntamente com Cervantes, o autor faleceu há 400 anos, e, vale o adendo, este 2016 é marcado por esses quatro séculos de sua morte. A respeito da data, roboro certa irascibilidade pelo fato de o brasileiro não ter contato tanto com William quanto com Miguel. Refleti um pouco a fim de concluir que a minha infância, sem eu necessariamente notar, foi algo demasiado rico culturalmente falando. Com o poeta inglês, por exemplo, tive meu primeiro contato assistindo ao Rei Leão. Aos que não sabem, a animação foi baseada em Hamlet, obra-prima épica do dito-cujo.
Ademais, mediante o Chapolin, o genial Bolaños criou uma espécie de quadro cuja finalidade era trabalhar clássicos da literatura mundo afora. Assim sendo, tive a oportunidade de me deparar com boa parte das peças mais ilustres. Dito isso, que referência literária as novas gerações têm? Estamos imersos num plano vazio, burro e pouco criativo. Quantos jovens hoje são alimentados por um bom livro? Claro que há estorvos como um governo incompetente, uma família perdida, a falta de bons valores, doutrinação em nossas instituições de ensino: tudo colabora para essa decadência cultural. Entretanto, é dever dos que ainda gozam de certo discernimento semântico estimular crianças para tal enriquecimento quanto à opulente leitura; algo que pouco ocorre.
Em contrapartida, citando um episódio para relacionar ao assunto, anda rolando uma foto que comporta dois mortos resultantes da queda da famosa ciclovia. Todos que estavam na praia naquele momento, sim, rejeitaram os corpos e seguiram com suas atividades. Dado o exposto, se não nos preocupamos nem com a morte de pessoas inocentes, quem terá iniciativa para solucionar nossa fraca literatura? Em suma, grosso modo, já que fiz alusão ao grande Cervantes, inventor de Dom Quixote, findo esse texto com ele: "Elimine a causa para o efeito cessar". No caso, as causas. E você ainda lê crepúsculo. É o fim dos tempos. 
Daniel Muzitano

quinta-feira, 7 de abril de 2016

A INTERPRETAÇÃO


Simone de Beauvoir a meu ver, considerando a conjuntura político-ideológica, era uma escritora demasiado ignóbil e paupérrima. Todavia, ora uma vez ou outra nos presenteava com um pensamento aqui outro acolá de faculdade significativa. Assim sendo, a dita-cuja promulgou certa vez: "O que é um adulto senão uma criança de idade". Pois bem, minha contemporização por tal cessa de imediato neste instante. Por meio dessa lógica, i-lo-ei mostrar de que modo a falta de interpretação para com os desenhos desfiguraram o raciocínio dos que, assim como eu, comportam lá a casa dos vinte e poucos anos. De que forma um desenho pode agregar enquanto unidade de pensamento?

O Laboratório de Dexter, Johnny Bravo, A Vaca e o Frango, Bob Esponja, Yu-yu-Hakusho, Digimon, Liga da Justiça, Dragon Ball, X-Men, Batman, Pokémon, Doug, Mickey, Pica-Pau, Tom e Jerry, Os Flintstones, Os Jetsons, Simpsons, Caverna do Dragão, Mandachuva, Death Note, Naruto, Superchoque, Corrida Maluca, As Meninas Superpoderosas, O Pinky e o Cérebro, 3 Espiãs Demais, Turma da Mônica, O Fantástico Mundo de Bob, Rei Leão, Tarzan, Scooby-Doo, Cavaleiros do Zodíaco, Popeye, A Pantera Cor-de-Rosa: todos de algum modo poderiam ter somado acaso fôssemos mais bem capacitados para pensar individualmente. 

De prefácio, creio que será um tanto quanto árduo explorar cada um desses desenhos. No entanto, minha finalidade é aclarar o quão cada desenho pode exercer uma interpretação a respeito de vários temas sem sequer notarmos. Jonny Bravo, por exemplo, era uma figura na qual assistira de forma constante. Loiro, forte e pouco inteligente, Jonny não se preocupava com nada em absoluto a não ser mulheres e mulheres. Vejamos, poderíamos entendê-lo como um machista ou como alguém que enxerga na figura feminina um elemento fundamental para a vida? As duas hipóteses são possíveis. Contudo, qual opção boa parte das mulheres adotou como conceito? Pois é. Ademais, apesar de o personagem sempre ter se dado mal, muitos caras agem exatamente como ele.

Quem não conhece aquele cara burro que só abre a boca para falar de mulheres, boates e derivados? Que pouco importa se a economia vai bem ou vai mal. Que vive à custa dos pais sem ligar a mínima para o futuro. Há muitos Jonnys espalhados por aí. E tudo é uma questão de interpretação. Aliás, repararam que o Sertanejo Universo Otário e outros segmentos cantam - sobretudo o Wesley Safadão - para esse respectivo público? Nós transformamos o vazio num padrão. Veja só o Popeye, era um desenho que ressaltava a importância de uma boa alimentação, mas poucos hoje comem espinafre. Os Flintstones e os Jetsons trabalhavam, cada um à sua época no eixo passado-futuro, com o mundo tecnológico incentivando a criação em nosso presente, e hoje nos deparamos com uma crise; ninguém consegue mais ser original. E porfiamos em levar para as nossas vidas o que há de mais estúpido, de mais infantil. 

Com relação aos desenhos de luta, usufruirei o Dragon Ball como arquétipo. Se estudarmos Vegeta e Goku, os principais de um todo, concluiremos que o primeiro era inteligente e arrogante. E o segundo, forte e bondoso. Vegeta era o exemplo que pela arrogância não se chega a lugar algum. Em contrapartida, Goku caminhava sempre na linha certa. Porém, o que a minha geração assimilou como elemento próprio? Excluiu não só a petulância bem como a inteligência do Vegeta, e, sobretudo, transformou a força e a bondade do Goku na mais absoluta passividade, na mais roborada ausência de senso crítico. Quem hoje é capaz de debater vários assuntos com certa autoridade? Mais uma vez, sempre tendemos ao pior que o desenho oferece, ou melhor, ao que a nossa interpretação formula.

Um aspecto curioso está presente no Doug. O mencionado era um garoto inocente que estudava o perfil de Paty Maionese, sua única pretendente. O diário, elemento de sua reflexão, era um emblema que mais servia para impulsionar a criança a escrever; independentemente do tema. E o que consideramos nele? A figura de um lesado que não come ninguém. Por que não visualizá-lo como um cara pensativo, respeitador e com um provável talento para a escrita? Uma minúcia importante: Doug antes era visto por pessoas com 10 ou 11 anos. Em tempos de funk como modelo cultural, por ventura o protagonista seja visto por crianças de 6 ou 7 anos. Era dever da minha geração entender essas peculiaridades e seguir para as posteriores. Mas não, quem se habilita nesse campo é o senhor Jean e membros Psol. Daqui a pouco, se depender desses idiotas, a Paty virará homem. E o Doug se sentirá mulher.

Por fim, as três meninas superpoderosas. Cada uma significando uma palavra. Lindinha era a bondade. Florzinha, liderança. Docinho, crítica. Três especificidades que unidas combatiam os estorvos do dia a dia presentes em seus inimigos; que eram muitos diga-se de passagem. E apesar de vários obstáculos, e, mormente, de elas lutarem pelo o que acreditavam, sim, o público entendeu as dificuldades em dualidades gerais do bem contra o mal. Exemplos: direita x esquerda, machismo x feminismo, rico x pobre e tantos outros. Além disso, muitas mulheres levaram consigo apenas a beleza e a doçura, pasmem, rejeitando esses pontos cruciais. Por corolário, vejo muitas mulheres pueris, infantis desde sempre. Tantas são as que vislumbram a vida como um momento feliz a todo tempo. A função do desenho era unir qualidades em cada criança a fim de que elaborasse uma geração capacitada para os desafios da vida. Em suma, os desenhos podem oferecer a chance para o nosso desenvolvimento. Entretanto, certos adultos preferem seguir crianças.

Daniel Muzitano

segunda-feira, 4 de abril de 2016

O CONFUSO NOVO ACORDO

Vergílio Ferreira, um rútilo escritor português, antes de exprimir acerca de quaisquer pautas dissera que ser inteligente é ser desgraçado. Dado o exposto, venho por meio desse criticar mais uma vez alguns absurdos do controverso novo acordo ortográfico. Depois das mudanças, toda vez que um leitor visualizar um "Para ele" fará confusão. Qual o porquê de excluírem o acento que diferenciava o PÁRA(verbo) do PARA(preposição)? Afinal, devemos PARAR a pessoa ou algo foi feito PARA alguém? Esse "PÁRA" acentuado morreu. O mesmo ocorreu com "PÊLA" e PELA, "PÊLO" e PELO e "PÊRA" e PERA. 
PÊLA era uma forma, pouco usada diga-se de passagem, do verbo pelar que significa tirar o "PÊLO". Aliás, "PÊLO" agora é PELO. E a PÊRA, fruta consumida por muitos, não possui mais diferenciação com o PERA; por sua vez sinônimo de PARA. Toda reforma deveria ter o intuito de facilitar o uso do público. No entanto, o que estamos presenciando é justamente o contrário. E o que dizem os gênios que aprovaram essas imbecilidades? Sim, que quem lê comporta discernimento para saber distinguir um termo do outro haja vista o contexto. 
Levando em consideração esse argumento, qual a razão então de eles terem mantido os acentos em PÔR(verbo) x POR(preposição) e PÔDE(pretérito perfeito) x PODE(presente)? Ademais, nosso caro Lula ratificou a reforma a fim de unificar a Língua Portuguesa de modo a simplificar a relação com os povos que usufruem tal. Se a ideia era uniformizar um padrão, por que a literatura de Portugal deixou de ser obrigatória em nossas instituições de ensino? A finalidade não era sermos propínquos? Se tivesse debatido com os acadêmicos mais notáveis a respeito do tema, não, o PT jamais teria levado isso adiante pois a maioria foi contrária. E esses são apenas alguns vitupérios que tenho sobre as novas formas. E é este o país em que a opinião de um ex-presidente analfabeto está à frente para com a de boa parte dos intelectuais mais renomados do país. É triste.
Daniel Muzitano