As coisas mais mesquinhas enchem de orgulho os indivíduos baixos. Essa frase foi dita por ninguém menos que o feérico Shakespeare. Juntamente com Cervantes, o autor faleceu há 400 anos, e, vale o adendo, este 2016 é marcado por esses quatro séculos de sua morte. A respeito da data, roboro certa irascibilidade pelo fato de o brasileiro não ter contato tanto com William quanto com Miguel. Refleti um pouco a fim de concluir que a minha infância, sem eu necessariamente notar, foi algo demasiado rico culturalmente falando. Com o poeta inglês, por exemplo, tive meu primeiro contato assistindo ao Rei Leão. Aos que não sabem, a animação foi baseada em Hamlet, obra-prima épica do dito-cujo.
Ademais, mediante o Chapolin, o genial Bolaños criou uma espécie de quadro cuja finalidade era trabalhar clássicos da literatura mundo afora. Assim sendo, tive a oportunidade de me deparar com boa parte das peças mais ilustres. Dito isso, que referência literária as novas gerações têm? Estamos imersos num plano vazio, burro e pouco criativo. Quantos jovens hoje são alimentados por um bom livro? Claro que há estorvos como um governo incompetente, uma família perdida, a falta de bons valores, doutrinação em nossas instituições de ensino: tudo colabora para essa decadência cultural. Entretanto, é dever dos que ainda gozam de certo discernimento semântico estimular crianças para tal enriquecimento quanto à opulente leitura; algo que pouco ocorre.
Em contrapartida, citando um episódio para relacionar ao assunto, anda rolando uma foto que comporta dois mortos resultantes da queda da famosa ciclovia. Todos que estavam na praia naquele momento, sim, rejeitaram os corpos e seguiram com suas atividades. Dado o exposto, se não nos preocupamos nem com a morte de pessoas inocentes, quem terá iniciativa para solucionar nossa fraca literatura? Em suma, grosso modo, já que fiz alusão ao grande Cervantes, inventor de Dom Quixote, findo esse texto com ele: "Elimine a causa para o efeito cessar". No caso, as causas. E você ainda lê crepúsculo. É o fim dos tempos.
Daniel Muzitano
Daniel Muzitano