O Laboratório de Dexter, Johnny Bravo, A Vaca e o Frango, Bob Esponja, Yu-yu-Hakusho, Digimon, Liga da Justiça, Dragon Ball, X-Men, Batman, Pokémon, Doug, Mickey, Pica-Pau, Tom e Jerry, Os Flintstones, Os Jetsons, Simpsons, Caverna do Dragão, Mandachuva, Death Note, Naruto, Superchoque, Corrida Maluca, As Meninas Superpoderosas, O Pinky e o Cérebro, 3 Espiãs Demais, Turma da Mônica, O Fantástico Mundo de Bob, Rei Leão, Tarzan, Scooby-Doo, Cavaleiros do Zodíaco, Popeye, A Pantera Cor-de-Rosa: todos de algum modo poderiam ter somado acaso fôssemos mais bem capacitados para pensar individualmente.
De prefácio, creio que será um tanto quanto árduo explorar cada um desses desenhos. No entanto, minha finalidade é aclarar o quão cada desenho pode exercer uma interpretação a respeito de vários temas sem sequer notarmos. Jonny Bravo, por exemplo, era uma figura na qual assistira de forma constante. Loiro, forte e pouco inteligente, Jonny não se preocupava com nada em absoluto a não ser mulheres e mulheres. Vejamos, poderíamos entendê-lo como um machista ou como alguém que enxerga na figura feminina um elemento fundamental para a vida? As duas hipóteses são possíveis. Contudo, qual opção boa parte das mulheres adotou como conceito? Pois é. Ademais, apesar de o personagem sempre ter se dado mal, muitos caras agem exatamente como ele.
Quem não conhece aquele cara burro que só abre a boca para falar de mulheres, boates e derivados? Que pouco importa se a economia vai bem ou vai mal. Que vive à custa dos pais sem ligar a mínima para o futuro. Há muitos Jonnys espalhados por aí. E tudo é uma questão de interpretação. Aliás, repararam que o Sertanejo Universo Otário e outros segmentos cantam - sobretudo o Wesley Safadão - para esse respectivo público? Nós transformamos o vazio num padrão. Veja só o Popeye, era um desenho que ressaltava a importância de uma boa alimentação, mas poucos hoje comem espinafre. Os Flintstones e os Jetsons trabalhavam, cada um à sua época no eixo passado-futuro, com o mundo tecnológico incentivando a criação em nosso presente, e hoje nos deparamos com uma crise; ninguém consegue mais ser original. E porfiamos em levar para as nossas vidas o que há de mais estúpido, de mais infantil.
Com relação aos desenhos de luta, usufruirei o Dragon Ball como arquétipo. Se estudarmos Vegeta e Goku, os principais de um todo, concluiremos que o primeiro era inteligente e arrogante. E o segundo, forte e bondoso. Vegeta era o exemplo que pela arrogância não se chega a lugar algum. Em contrapartida, Goku caminhava sempre na linha certa. Porém, o que a minha geração assimilou como elemento próprio? Excluiu não só a petulância bem como a inteligência do Vegeta, e, sobretudo, transformou a força e a bondade do Goku na mais absoluta passividade, na mais roborada ausência de senso crítico. Quem hoje é capaz de debater vários assuntos com certa autoridade? Mais uma vez, sempre tendemos ao pior que o desenho oferece, ou melhor, ao que a nossa interpretação formula.
Um aspecto curioso está presente no Doug. O mencionado era um garoto inocente que estudava o perfil de Paty Maionese, sua única pretendente. O diário, elemento de sua reflexão, era um emblema que mais servia para impulsionar a criança a escrever; independentemente do tema. E o que consideramos nele? A figura de um lesado que não come ninguém. Por que não visualizá-lo como um cara pensativo, respeitador e com um provável talento para a escrita? Uma minúcia importante: Doug antes era visto por pessoas com 10 ou 11 anos. Em tempos de funk como modelo cultural, por ventura o protagonista seja visto por crianças de 6 ou 7 anos. Era dever da minha geração entender essas peculiaridades e seguir para as posteriores. Mas não, quem se habilita nesse campo é o senhor Jean e membros Psol. Daqui a pouco, se depender desses idiotas, a Paty virará homem. E o Doug se sentirá mulher.
Por fim, as três meninas superpoderosas. Cada uma significando uma palavra. Lindinha era a bondade. Florzinha, liderança. Docinho, crítica. Três especificidades que unidas combatiam os estorvos do dia a dia presentes em seus inimigos; que eram muitos diga-se de passagem. E apesar de vários obstáculos, e, mormente, de elas lutarem pelo o que acreditavam, sim, o público entendeu as dificuldades em dualidades gerais do bem contra o mal. Exemplos: direita x esquerda, machismo x feminismo, rico x pobre e tantos outros. Além disso, muitas mulheres levaram consigo apenas a beleza e a doçura, pasmem, rejeitando esses pontos cruciais. Por corolário, vejo muitas mulheres pueris, infantis desde sempre. Tantas são as que vislumbram a vida como um momento feliz a todo tempo. A função do desenho era unir qualidades em cada criança a fim de que elaborasse uma geração capacitada para os desafios da vida. Em suma, os desenhos podem oferecer a chance para o nosso desenvolvimento. Entretanto, certos adultos preferem seguir crianças.
Daniel Muzitano
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