terça-feira, 15 de junho de 2021

Mulher-solteira e mulher solteira

 


Entre um café e outro, eis que aflora a informação de que a Anitta e a Luísa Sonza vituperaram, "a fortiori", uma acepção de um respectivo termo no dicionário do Google; cuja responsabilidade, por assim dizer, é da Oxford Languages. Ipso facto, o Google resolveu então satisfazê-las, formulando uma justificativa e alternando o conceito, já que são sumidades tantas na ramificação lexicográfica. Apesar de a Oxford colacionar um sem-fim de vocábulos e de possuir dedicação exclusiva à pauta, as "cantoras" parecem ter mais respaldo por parte da empresa.

Exposto o preâmbulo, uma das críticas implicava o fato de que mulher-solteira, que é expressão devidamente hifenizada, designa a famigerada prostituta. As duas e mais um tutti quanti, que não apresentam o estudo como uma primazia de vida, são seres inócuos na compreensão do sinal gráfico, aliás, sequer sabem que mulher-solteira é uma construção com limitações geográficas, utilizada por seu lado especificamente em regiões do Nordeste, como bem observa o Dicionário Caldas.

Etimologicamente falando, o hífen emana do grego hyphén, nos remetendo à condição outra de "um só corpo", "um só sentido", uma vez que serve para extirpar ambiguidades e/ou formar um novo significado, scilicet, por meio de dois ou de mais termos. Em suma, mulher solteira seria literalmente uma mulher solteira, enquanto que, com hífen, por justamente mulher e solteira terem perdido suas concepções primevas, tem-se a lógica de "prostituta". Em outras palavras, para fins de ilustração, a mulher-solteira com o sinal gráfico não nos remonta a uma mulher solteira, consoante elas pregaram.

Demais disso, mulher-solteira é expressão popular, típica da região supracitada. Sem embargo, se é para menoscabarmos o que é popular e característico de certo lugar, que tal começarmos pelas "canções" das meninas aludidas? E mais, tendo em vista suas letras apelativas que aviltam a mulher, tal como seus ritmos de cunho sobremaneira pornográfico, não seriam elas responsáveis pela mulher, por parte de alguns, ser vista como um mero adorno? O alegado machismo, que é um elemento por elas sempre criticado, não seria alimentado pelas letras deliquescentes dessas senhoritas? Enfim, frisá-lo-ei que meu estarrecimento não está concatenado ao fato de elas serem ignorantes, e sim de serem levadas a sério a ponto de possuírem poder para mudar o sentido de uma expressão. Até quando?   

Daniel Muzitano