terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O fanatismo à guisa da Argentina


O óbito de Maradona, a pari com os de Carlos Gardel e de Eva Perón, aclara o âmago nacionalista presente no povo argentino, que trata seus nomes a título de deuses, conquanto isso lhe traga deteriorações infindáveis. Por exemplo, citá-lo-emos Che Guevara, um argentino psicopata, autor de brutalidades de toda ordem, declaradas por seus próprios ex-companheiros de batalha, que podem ser assistidas por sua vez no documentário "Anatomia de um mito".

Pelo fato de ele ser argentino e famoso, suas perseguições e seus crimes, apresentados com elevada solércia e glamourização por setores relevantes, a aludir, por exemplo, a classe artística, são mais do que justificados, afinal, ele é argentino. Se Maradona e Eva são deuses, Che Guevara, tatuado no braço do primeiro, e Juan Domingo Perón, ex-presidente e marido de Eva, serão amiúde vistos como referências, pois os deuses não se equivocam em suas escolhas.

Destarte, é sine qua non reportarmos que esse comportamento, caracterizado por uma ovação pueril, inconteste, catingosa e estulta, explica o porquê da insistência por escolhas políticas infelizes, acarretando a exacerbação cada vez mais nítida da fome no país. Em outros termos, o argentino é acentuado pelo nacionalismo fanático e pela pesporrência incólume, que faz viva naquele que é incapaz de rever e de aprender com seus erros.

Nesse sentido, o gol de mão de Maradona, à frente daquele cujo jogador dribla toda a Inglaterra, demonstra que a malandragem, à similitude do que acontece no Brasil macunaímico, foi, indubitavelmente, a consolidação do "tudo em nome da causa". A bem da lógica, Lionel Messi, em todos os números e perspectivas, vence Maradona de longe; sendo, a saber, melhor do que Diego. Entrementes, ser melhor não implica ser maior, e é esse o ponto-chave da conversa.

Por fim, mesmo depois de decênios da morte de Gardel, os argentinos dizem que ele canta, todas as manhãs, cada vez melhor. Portanto, remontar Deus na figura de um homem tem lá seus malefícios para o próprio homem, de modo que as drogas e a bebida podem ser mencionadas no caso de Diego. Todavia, se a nação trabalha para que o mérito e o talento sejam religiões acima de tudo, ela não cresce, não progride e vive a repetir as suas deploráveis certezas, posto que Deus é intocável. É como dizia o Borges, célebre escritor e outro argentino, "a dúvida é um dos nomes da inteligência". Grosso modo, com seus diversos senões e suas nimiedades ínfimas, Maradona era um talento. Deus, na melhor das hipóteses, só pode ser comparado a santos; caso, exempli gratia, de João Paulo II. Fim!

Daniel Muzitano

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